Pantanal
- Tamara
-fotos: Marina B. Klink
Foi quando aprendi a ler as placas nas estradas que conheci o Pantanal.
A maior área continental alagável do mundo foi a alternativa que minha mãe encontrou para ficarmos longe de Paraty, mas não da água.
A fazenda do Israel e da Lea, em Miranda, foi onde aprendemos a andar à cavalo, a identificar as espécies de pássaros e a não ter medo de chegar perto dos jacarés. Tomávamos café da manhã do lado de uma jaguatirica, brincávamos de achar tamanduás bandeira e viajávamos na caçamba da picape, todo dia, na tentativa de ver de perto uma onça pintada. Por 7 anos consecutivos, vimos só pegadas, mas foi nessa incansável busca que minha mãe nos ensinou a amar estar perto dos animais.
Em julho, época da seca, os jacarés passavam o dia tomando sol com as capivaras, em um lago perto do rancho dos cavalos. Em janeiro, contavam as famílias da fazenda, que eles se mudavam para a piscina.
O Léo era, e ainda é, um dos meus grandes ídolos. Morador da fazenda, ele tinha olhos supersônicos que identificavam os micro-passarinhos à quilômetros de distância. Ele sabia os nomes de todas as espécies e tinha a maior paciência do mundo com as crianças que não paravam de gritar com a cara no vento do carro em movimento. Não sei se terminou a escola, mas sabia tudo sobre os animais que não se aprende em livros ou palestras de quem estuda o que não viveu.
As viagens para o pantanal foram um ensaio para as, ainda nem sonháveis, viagens para a Antártica. Aprendemos a registrar nossas descobertas científicas num diário, a fazer experimentos fotográficos e a encontrar verdadeiras cachoeiras de conhecimento nas pessoas que aprendem com a experiência, e não com a informação. Com isso, descobri como ler as placas que acompanhavam, não a estrada da viagem, mas as do meu pensamento, que eram instaladas na medida em que, com as descobertas, eu era capaz de fazer caminhos.