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Entre Formigas

- Laura

Dez amigos, seis nacionalidades. Todos em uma pequena van, com destino à Tikal, um sítio arqueológico de ruínas e pirâmides maias. Partimos de San Miguel Escobar pelas 3 da manhã e cambaleando de sono, tornamo-nos zumbis. A viagem  soava como um teste para pessoas ansiosas; seriam 14 horas de resistência. Meta do dia: chegar no parque antes das 5 da tarde. Kit de bordo: uma garrafa d’agua e um saquinho plástico para eventuais descartes ou indigestões alimentares. De um dormitório temporário, a  tripulação da pequena e vermelha vã foi ganhando ânimo ao nascer do sol, assim como os relances na janela, em diferentes tons de verde.

Em uma corrida contra o tempo, fomos vencedores, chegamos dentro do horário estipulado. Já dentro do camping, todos se permitiram deitar nas redes. Optei pela escolha mais roots e dei um prévio aviso de que dormiria no chão de concreto. Estiquei meu sleeping bag e comecei a admirar o céu. Sem luz elétrica, éramos iluminados apenas pela luz da lua. Por alguns minutos tive a doce ilusão de conforto.

Sem que percebesse, a natureza de menor dimensão foi delicadamente avançando sobre o território, afinal de contas, nós havíamos tomado o delas. Peguei uma lanterna. Ao passo em que iluminava o chão, pontos e mais pontos pretos ambulantes cruzavam o feixe de luz, como um céu terrestre. Mal imaginaria que disputava aquela fração de solo e atrativa moradia, com tantas formigas, (enormes formigas) que camuflavam-se meio a concreto, sombras e aranhas.

- Me rendi à rede -

A duração da viagem de carro – que para alguns soa como enclausuramento – o cardápio – que faria com que qualquer nutricionista se desiludisse com a profissão – ou a estadia ao ar livre – a qual provavelmente não seria classificada como a melhor – trouxeram vida ás páginas de meu diário.

Há aqueles que dizem que a companhia transforma o lugar, nada mais certo para mim. As longas horas no carro, viram minutos; as comidas industrializadas, um banquete gourmet e as formigas, imperceptíveis. Seja sua própria companhia ou a de outras duas, dez, vinte pessoas, se “as regras básicas de convivência” entram em consentimento e a motivação de todos é constante, a alegria permeará o solo em que pisamos. Sorte é estar com as pessoas certas, e por certas não quero dizer perfeitas. Quando as  diferenças convergem em um mesmo ponto no globo terrestre, a viagem ganha sabor(es), certas vezes mais para azedo, doce ou salgado, mas o ganha. O perfeito é saber viver as imperfeições da vida alegremente, afinal de contas, são essas imperfeições que rendem as melhores histórias.

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