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O mundo em poucas linhas

O Mundo em Poucas Linhas

-Tamara

Escrevo como uma draga come o fundo de um canal. E come um rio, e come um fundo de mar inteiro.
É meu tempo que drago ferozmente, ao tatuar meus dias nos maços de papel.
Escrevo anos há anos, mesmo sem ter vivido tantos assim. E eu já sei: jamais lerei um quinto do que escrevi.
Isso porque ao ler o passado eu não me reconheço. E pois não quero admitir que nele eu me vejo demais.

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na verdade

Na verdade,

- Tamara

O sonho é um monte de neve guardado num potinho. Na minha jornada pela superfície da Terra, colecionei suspiros, vi derreterem-se tesouros e reguei a fé que eu mesma assassinei. Minhas utopias materializadas tornaram-se desilusões banais. E me perguntei se era assim que as estrelas morriam, se fazendo visíveis. Mas não. Algumas estrelas expostas na areia da praia podiam  viver, se devolvidas ao mar a tempo.

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mar drake golfinho

Sublimação intransponível

- Tamara

Pra onde o Pacífico e o Atlântico pelo Sul conversam, damos o nome de Drake. O encontro, no veleiro, é medido em dias: 7, na vela, ou 3, no motor.

Prefiro chamar de conversa do que de discussão. Às vezes, os dois oceanos brigam como pais e filhos falando de política. São dias de cama e jejum, sem sair nem pra ir ao banheiro.  Outras vezes, os oceanos falam de música, de arte, de café. Nesse caso, o mar vira azeite, o barco quase não mexe e parece que nem saímos dos canais chilenos.

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